3 autores que você (provavelmente) não sabia que faziam parte da comunidade LGBTQIA+

Com a representatividade de minorias cada vez mais em alta, é importante apoiarmos autores LGBTQIA+.

No entanto, muitas vezes não sabemos quem se identifica como queer ou não. Por isso, separei uma lista com 3 autores que você (provavelmente) não sabia que faziam parte da comunidade LGBTQIA+.

Continue lendo para conferir a lista.

Virginia Woolf

Virginia Woolf foi uma escritora e poetisa inglesa. Publicou livros como Mrs. Dalloway, Um teto todo seu, O sol e o peixe e A arte da brevidade: contos.

Woolf era membro do Grupo Bloomsbury, no qual importantes figuras literárias inglesas participavam. A ideia do grupo era, dentre outros assuntos, debater a liberdade da sexualidade. A partir de sua participação, Virginia se sentiu segura o suficiente para ter um relacionamento público com Vita Sackville-West.

Orlando é uma das obras mais conhecidas de Woolf e é considerado um dos clássicos queer feministas de todos os tempos. O livro é inspirado na vida de Vita.

Angela Davis

Angela Davis é conhecida pelo seu ativismo e por sua participação no movimento Pantera Negra. Desde 1977, é assumida publicamente como lésbica.

Além de educadora, Davis tem diversos livros sobre vidas negras nos Estados Unidos. Dentre eles, podemos citar Mulheres, raça e classe, Mulheres, cultura e política, A liberdade é uma luta constante e A democracia da abolição.

Davis ainda escreve e ensina, e, recentemente, foi apresentado no documentário 13ª Emenda, de Ava DuVernay. O ativismo e a escrita de Davis têm sido principalmente orientados em torno do uso da educação como um método de promoção de mudança social.

James Baldwin

James Baldwin foi um romancista americano e figura proeminente no movimento pelos direitos civis. Baldwin, frustrado com a discriminação que enfrentou nos EUA, emigrou para a França quando tinha 24 anos e passou a maior parte de sua vida lá.

Em 1956, Baldwin publicou O quarto de Giovanni, um romance que atraiu intensa atenção e crítica por sua representação da homossexualidade e bissexualidade, e é frequentemente citado como um dos romances queer mais importantes já escritos. Nos anos 70 e 80, Baldwin ousada e abertamente escreveu sobre a homossexualidade e a homofobia em vários ensaios.

Outras obras conhecidas do autor são Se a rua Beale falasse, Notas de um filho nativo e Terra estranha.


Você já sabia que esses autores faziam parte da comunidade LGBTQIA+? Já leu algum livro deles? Conte para mim nos comentários.

Um abraço,
Julia

Dez segundos

Se você gosta de contos gratuitos com histórias LGBTQIA+, chegou no lugar certo!

Meu nome é Julia e eu sou escritora. Aqui no meu blog, compartilho contos gratuitos para incentivar a literatura nacional

 

Nesse post, você irá ler Dez Segundos, meu conto LGBT+ sobre dois garotos que só desejavam se amar.

 

Vamos lá?

Dez Segundos

Dez…
O que é levado com a morte?
Eu levo lembranças de ti.
Eu levo teus olhos cor de mel, teus lábios cheios de sorrisos e piadas sarcásticas. Levo tuas sardas e teus cabelos castanhos e brilhantes. Também me acompanham teus braços, que se encaixaram num abraço perfeito em dias melhores. E, é claro, teu corpo outrora quente me segue, tão pequeno e macio que me entristece saber que nunca mais o sentirei.

Nove…
O que vivemos na morte?
A dor da perda e as alegrias das lembranças.
A saudade constante de momentos vividos.
O desejo de mais tempo contigo.
Tu, que me olhas com olhos marejados, o que vives?
Eu vivo vermelho.

Oito…
O que fica após a morte?
Minha casca presa neste momento. Te olhando.
Fica o instante da perda, o esgotamento da luta, a sensação de que poderíamos ter vivido mais.
Uma lágrima escorre. Um suspiro se escapa. Tu suplicas, em lábios moribundos, que não o deixes.
E eu espero te encontrar.

Sete…
O que veio antes da morte?
A promessa de liberdade.
O medo do incerto.
E a dúvida do que aconteceria em seguida.

Seis…

O que se ganha na morte?

Perdas, mas também possibilidades e esperança… de mudança.

Dois mártires acabados.

Destinos que já haviam se cruzado.

Cinco…

O que se perde com a morte?

Já não poderei mais sentir teu hálito quente contra meu rosto.

Os teus ossos contra os meus, o calor e perfume do teu corpo se envolvendo com o meu.

E nossos planos de uma vida longa e feliz.

Quatro…

O que é dado pela morte?

A certeza do fim, a leveza de não precisar mais lutar.

A única certeza que tenho é teu corpo ao lado do meu. Porém não tenho forças para ver se tu já fostes.

Três…

O que é lembrado com a morte?

Nós, eu acho.

Nós e a triste história do casal apaixonado da Escola Paroquial São Agostino Só Para Meninos.

Nós e as batalhas que tivemos que lutar.

Nós e esta luta final.

Dois…

Qual a sensação da morte?

É um suspiro de alívio contra o ódio.

É a propagação do amor.

É o último combate contra o preconceito.

É sentir-te ao meu lado para sempre.

Um…

Qual o grande final?

Duas mãos entrelaçadas.

Dois corpos banhados em vermelho escuro.

Dois pares de olhos fechados.

Um coração totalmente parado.

Um coração fazendo sua última batida.

Você, eu e nosso fim em uma luta que muitos perdem.

Esse foi um dos contos gratuitos que eu disponibilizo no meu blog e no meu Wattpad.

 

Espero que tenha gostado!

 

Um grande abraço,

Julia

 

Porque escrever literatura com representatividade (+ bônus de 3 passos de como fazer isso)

Foi-se o tempo em que todos os personagens eram lindos, altos, loiros e de olhos azuis (ainda bem!).

Nossos leitores estão buscando representatividade e com razão. Assim como autores não-brancos e fora do padrão estão ganhando cada vez mais destaque no mercado.

E é por isso que que quero saber: você escreve uma literatura que representa seus leitores?

Você cria personagens reais, com defeitos, não-brancos e corpos fora do padrão?

Independente se a resposta for sim ou não – e se for não, por favor considere mudar isso de verdade -, hoje trouxe três dicas de como incluir representatividade na sua literatura, especialmente em seus personagens.

Antes de começar as dicas, gostaria de falar um pouco sobre os diferentes tipos de representatividade:

Feminista

Querendo ou não, mulheres ainda enfrentam um grande preconceito dentro do mundo literário. Muitas vezes, somos vistas apenas como competentes para escrevermos livros do gênero do romance, como se o amor só pudesse ser falado de uma perspectiva feminina.

Ainda estamos entrando no mercado como profissionais bem pagas. Um estudo de 2019 revelou os escritores mais bem pagos do mundo:

  1. J.K. Rowling: US$ 92 milhões

2. James Patterson: US$ 70 milhões

3. Michelle Obama: US$ 36 milhões

4. Jeff Kinney: US$ 20 milhões

5. Stephen King: US$ 17 milhões

Sendo que J.K. precisou criar um pseudônimo masculino para lançar seus livros de conteúdo mais adulto.

Não estou criticando o valor do trabalho dos autores masculinos da lista, mas isso mostra o que ainda precisamos incluir novas autoras no ranking (até porque é bem ruim mantermos uma autora transfóbica no topo dessa lista, né?).

Racial

Quantos personagens não-brancos você coloca como protagonista em seu livro? Quantos autores não-brancos você lê ou vê destaque na mídia?

Vamos pegar a mesma lista de autores mais bem pagos do mundo. Dos 5, uma é uma escritora não-branca. E será que Michelle estaria nessa lista se não fosse esposa de um ex-presidente?

Por que essa não poderia ser uma lista muito mais racializada? Temos autores incríveis de descendência asiática, negra, indígena… Então por que nossas estantes ainda são permeadas por autores brancos?

Isso é uma coisa que quero mudar, tanto do conteúdo que leio quanto como do que escrevo.

Sexualidade

Coloco o mesmo ponto do argumento de cima aqui: quantos livros com protagonistas LGBT+ você tem na sua estante? Quantas são histórias que não falam nada sobre a descoberta da sexualidade? Quantos autores LGBT+ você conhece?

As pessoas são gays. E lésbicas, e bissexuais, e trans e de todos os tipos fora do padrão hétero cis. Então por que seus personagens não devam ser também?

Por que não ler autores dessa comunidade?

Corpo fora do padrão

Você tem algum protagonista gordo? Que o problema da vida dele não é ser gordo, é, sei lá, salvar o mundo?

Pois é. Se é difícil vermos personagens negros, indígenas, gays ou trans ou o que seja, mais difícil ainda é ver personagens gordas.

Mas acontece que corpos fora do padrão existem e até ouso dizer que são mais comuns do que o padrão que a sociedade impôs. Então por que não explorar essas formas e colocar na sua narrativa?

Personagens com deficiência

A Flipop 2020 teve debates maravilhosos sobre representatividade na literatura e a que eu mais gostei foi a mesa Ninguém é só uma coisa, porque pude entender mais da vivência da Rebeca Kim, escritora cadeirante.

E senti vergonha ao perceber que eu jamais havia lido nada com protagonista com deficiência. Pior ainda: nunca havia sentido falta dessa representatividade na literatura.

O que gostei da fala dela é que autores deficientes existem também. E quantos estão tendo visibilidade?


Quis trazer esses tópicos para percebermos que a representatividade é plural e ampla. Ela pode estar muito mais presente na literatura do que o que vemos hoje.

Então qual dessas você vai passar a ler ou a incluir nos seus livros?

Agora, às dicas…

Depois de entender os tipos de representatividade, vamos às dicas para saber como escrevê-las melhor?

1. Se você não faz parte do grupo de representatividade, pesquise muito

Isso significa acompanhar influenciadores não-brancos, PcDs, mulheres ou LGBT+. Não somente escritores ou do mundo literário, mas de todas as áreas. Essas pessoas costumam compartilhar suas vivências como pessoa racializada, mulher, LGBT+ ou PcD e isso significa que você pode entender muito mais do mundo dessa pessoa.

Converse com essas pessoas, pergunte, mostre seu rascunho para elas para ver se você não está escrevendo nenhuma abobrinha. Saia da sua bolha e conheça outras realidades. Se coloque na pele dessas pessoas.

O segredo para escrever representatividade, sendo uma pessoa cis hétero (como é o meu caso), por exemplo, é ter empatia.

2. Evite caricaturas

Uma coisa que acontece com frequência é autores colocarem personagens que geram representatividade mas que surgem como caricaturas do que essas pessoas realmente são.

Quantas vezes não conhecemos o melhor amigo gay super afeminado que só está na história para ser cômico? Ou a amiga gorda que só serve para fazer piada? Ou o homem negro que morre e vira um mártir para o protagonista branco lutar contra o sistema?

Pois é, são os piores clichês que você pode incluir nas suas histórias.

3. Não ocupe o lugar de falar de ninguém

Eu sou a favor de usar a literatura como forma de expressão e como maneira de mostrar as realidades do mundo de modo artístico. Isso significa que você pode criar o que quiser, da forma como quiser, no entanto com alguns cuidados.

Escrever uma protagonista lésbica, como eu fiz no meu livro Se Eu Fosse Um Clichê, é diferente de tomar para mim o lugar de fala da comunidade lésbica. Não posso sair gritando aos quatro cantos que meu livro retrata exatamente a vivência de uma adolescente lésbica, nem posso usar isso como meu porta-bandeira. Não é meu lugar de falar comentar sobre o preconceito que essas mulheres vivem, nem sobre suas dificuldades e desafios.

Eu pesquisei muito para conseguir escrever o livro e deixá-lo de uma forma que não fosse pejorativa. Em nenhum momento me posicionei de forma a ocupar o lugar dessas mulheres. Não pretendo me colocar como especialista no assunto nem ficar opinando sem embasamento.

Entende a diferença entre contar uma história do ponto de vista de uma pessoa que tem outra vivência que a sua e tomar seu lugar de fala?


E agora, você entende a importância da representatividade na literatura? Que tal começar a incluir mais na sua?